quinta-feira, 24 de julho de 2025

Uma homenagem ao Supremo Tribunal Federal.


 


Como é sábio o medo, esse mestre sutil que dança nos corações humanos, moldando-os com promessas de segurança. Inspirados no espírito de O Elogio da Loucura, de Erasmo de Rotterdam, celebremos o medo, esse artífice da obediência, que com sua varinha mágica transforma cidadãos em súditos. Pois é o medo, e não a razão, que governa as massas com mais eficiência. E é ele quem permite ao Estado brilhar como o Guardião Supremo, o salvador de todos os males. Basta um sussurro de perigo, uma ameaça invisível, um inimigo fantasmagórico para que a sociedade trêmula, se curve.


Crie-se um monstro. Uma doença que ninguém vê, um inimigo que estreita nas sombras, uma ideia que corrompe, não importa se a ameaça é real ou apenas um espantalho bem vestido. O que importa é que ela assusta. E assim o cidadão, tomado pelo pavor, olha para o Estado como a criança olha para o pai, implorando proteção. Salve-nos, clama ele, sem perceber que, ao fazê-lo, entrega sua liberdade em troca de uma ilusória segurança. E assim, diante de tantas ameaças, prisões e perdas de direitos, a censura dispensa a necessidade de ser gravada em leis.


Ela se tornou um ambiente, um ar invisível que o cidadão respira, vigiando-se a si mesmo com o temor de cair em desgraça por suas palavras ou ações. A espada de Damocles pende eternamente sobre sua cabeça e ele, paralisado, cala-se antes mesmo de falar, move-se com cautela antes mesmo de agir. O Estado, esperto regente, aceita o papel com entusiasmo, promete vigiar, controlar, regular, ergue muros, impõe leis, monitora palavras e passos, tudo em nome do bem comum. E o cidadão, grato, não vê que no pescoço lhe colocaram uma coleira, gravada com o nome de seu dono. Ele acredita estar salvo, mas não nota que sua voz foi silenciada, seus passos guiados, sua vontade domada. O medo o cegou e ele, em sua devoção à segurança, esqueceu-se de questionar.


Quem criou a ameaça? Quem lucra com o meu temor? Assim, louvemos o medo. Esse escultor de sociedades dóceis que faz o homem trocar a liberdade pela promessa de um amanhã sem sustos, pois enquanto ele teme o lobo que nunca viu, não percebe que já é cordeiro, conduzido mansamente pelo cajado do poder.