quarta-feira, 11 de junho de 2025

O "golpe" brasileiro: o único da história derrotado por uma minuta não assinada…




 


Na vasta coleção de golpes de Estado da América Latina, todos seguem um padrão básico: tanques nas ruas, militares fardados, quartéis em alerta, palácios invadidos, rádios ocupadas e, claro, uma pitada de caos institucional. É um manual que todo aspirante a golpista parece seguir à risca — menos os brasileiros. Aqui, como em quase tudo, fizemos diferente. Muito diferente.


Estamos diante do primeiro golpe da história que não aconteceu. Um "golpe" sem soldados, sem armas, sem quartel, sem apoio e sem ação. Um "golpe" frustrado porque... ninguém assinou a minuta. Isso mesmo. O plano falhou porque faltou caneta. Nem mesmo uma assinatura eletrônica no GOV.BR. Aparentemente, o golpe brasileiro não foi derrotado pela resistência popular ou pela força do Estado democrático de direito, mas por pura desorganização e uma pasta desatualizada do Word.


Enquanto isso, a Justiça segue firme, analisando esse evento como se fosse o caso do século. Julgamentos televisionados, cobertura especial e uma expectativa generalizada de condenações históricas. Mas o que se vê é um roteiro digno de tragicomédia: um ajudante de ordens que sabia de tudo, contou tudo e… não fez absolutamente nada. Um plano de ação tão eficiente quanto uma reunião que poderia ter sido um e-mail.


Em outros países, os fracassos de golpes ainda exigiram tanques nas ruas. Em La Paz, generais avançaram sobre a cidade. No Paraguai, tropas ocuparam a capital. Na Venezuela, Chávez tentou tomar o poder à força e foi preso no mesmo dia. Mas o Brasil preferiu inovar: enquanto o suposto “golpe” era supostamente tramado, o presidente da República estava fora do país — de férias, nos Estados Unidos. Os militares? Foram consultados, ouviram a ideia e responderam com o bom e velho “não, obrigado”.


A originalidade brasileira vai além da falta de tanques. No meio dessa ópera bufa, quem vem sendo efetivamente condenado são... humoristas. Piadas, esquetes e vídeos de internet passaram a ter peso criminal. Sentenças de 8 anos por sátira política. Se você acha que está assistindo a um julgamento jurídico, pense de novo — talvez esteja no meio de um festival de stand-up, só que ao contrário: quem faz rir é preso.


A ironia é que situações semelhantes passaram batidas em outros contextos. Em 2016, aliados de Dilma Rousseff cogitaram decretar estado de defesa. Sondaram os militares. A proposta não avançou — e tampouco gerou investigação criminal. Hoje, o cenário é outro: duas medidas, um só Código Penal e uma vontade gigantesca de transformar tudo em espetáculo.


Talvez o real crime seja o nível das atuações. Gente que queria dar um golpe de Estado e não conseguiu nem organizar um Uber. O Brasil conseguiu o que ninguém mais conseguiu: transformar um fracasso constrangedor em evento histórico. Um “golpe” que só virou pauta porque faltou coragem para admitir que foi só mais uma tentativa mal-ajambrada de manter o poder pela fofoca de bastidor.


No fim das contas, o país está dividido entre quem ri e quem chora — ou melhor, entre quem ainda consegue rir e quem já foi condenado por isso. Porque, hoje, piada é coisa séria. O perigo não está mais nos tanques, mas nas tiradas sarcásticas. O novo regime de exceção começa com uma caneta que ninguém usou, mas termina com um microfone que não pode mais ser ligado.


O Brasil não deu um golpe. O Brasil deu um vexame — e está tentando transformar isso em heroísmo de toga.