Não é em meia dúzia de linhas que se explica uma calamidade pública. Menos ainda quando os experts cientistas divergem sobre a origem e a possível cura. Enquanto se discute se os números estão certos, o vírus engole os fracos, atropela os ingênuos e destrói as ilusões dos idealistas.
A Cloroquina, o isolamento, a pandemia, a recessão, tudo são consequências de um único fato, transcendental e incontroverso. 2020 é o ano em que o mundo vira uma página da história. Nada mais será igual, do Japão ao Brasil, de Ushuaia à Groenlândia, aquele mundo pré-2020, não existe mais.
Mas dentro de um planeta combalido tem um ilustre personagem: o brasileiro.
Ele sabe tudo, de tudo opina, e para tudo tem solução. Seu mundo espectral, em regra, de horizonte limitado, busca soluções imediatistas, pois neste pais, uma vida tem quinze minutos, enquanto na Ásia e Europa temos casas de mil anos, dinastias e talheres seculares, vejam: bebe-se café sob os arcos do Coliseu. Serei mais explícito: ainda há viúvas do Império Otomano.
Para o europeu é mais uma peste, mais grave, é verdade, porém é mais uma peste. Para o brasileiro, ao contrário, é vida ou morte, é o drama e o pavor dentro de cada casa. Somos mais apressados, quase num ritmo de novela, onde tudo se resolve num capítulo derradeiro, mas a retomada será lenta, desafiando o limite da paciência.
Hoje um humilde espirro em via pública já te transforma num leproso, e uma paranóia, às vezes, só se elimina no divã do psicanalista. Antes de tudo, e é importante que se observe, há de termos consciência da virada de página, novas concepções e novos parâmetros serão aos poucos incorporados na vida de cada um e em todos os ramos da ciência. No Direito, por exemplo, o conceito de 'força maior' será revisto.
Os destinos dos homens não se articulam como os capítulos de um livro ; a sua lógica escapa a todo o espírito de sistema e não obedece senão à lei do fluir perpétuo .