sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O INTOCÁVEL…

 

Em qualquer democracia de quinta categoria, Alexandre de Moraes já teria sido afastado do cargo e colocado sob investigação formal. Não por clamor popular, nem por pressão política, mas por algo muito mais simples: o respeito mínimo às regras que sustentam a credibilidade de um Judiciário. Quando essas regras são atropeladas, o cargo perde legitimidade.


A sucessão de revelações envolvendo o Banco Master não deixa espaço para dúvida razoável. Vínculos familiares diretos, honorários milionários, atuação da esposa do ministro em ações sensíveis ligadas ao Banco Central do Brasil e, por fim, a informação de que o próprio ministro teria procurado a presidência do BC para tratar de interesses do banco. Isoladamente, cada fato já seria grave. Em conjunto, formam um quadro que em qualquer país sério seria classificado como conflito de interesses escancarado.


O problema não é provar culpa criminal em manchete. O problema é que nenhuma instituição sobrevive quando quem julga parece agir como parte interessada. A democracia não exige apenas legalidade formal, exige aparência de imparcialidade. E essa aparência foi destruída. Quando um ministro do Supremo cruza essa linha e nada acontece, o recado é devastador: existem cidadãos comuns e existem intocáveis.


Mais grave ainda é o silêncio cúmplice do Senado Federal. O Senado não é espectador desse processo. É o órgão constitucionalmente encarregado de fiscalizar ministros do STF. Ao se calar, não demonstra prudência, mas submissão institucional. O medo de enfrentar o poder fala mais alto do que o dever de proteger a República.


O Brasil não vive uma crise de informação. Vive uma crise de caráter institucional. As denúncias estão aí, os fatos se acumulam, mas a engrenagem do poder escolhe fingir que não vê. Quando até o óbvio é tratado como irrelevante, a democracia deixa de ser um sistema de regras e passa a ser apenas um discurso conveniente.